GÊNERO E INTERSECCIONALIDADES PARA PENSAR O CUIDADO COMUNITÁRIO

PESQUISA-AÇÃO EM TERRITÓRIO PERIFÉRICO NA CIDADE DE SÃO LEOPOLDO/RS

  • Laura Cecilia López
  • Cauê Rodrigues
  • Natália Inês Schoffen Corrêa
  • Murilo Santos de Carvalho
  • Miriam Steffen VIEIRA Steffen Vieira
Palavras-chave: Gênero, Interseccionalidade, Cuidados comunitários, Saúde, COVID-19

Resumo

No presente artigo analisamos a relação entre gênero e cuidado, na dimensão comunitária e na articulação com políticas públicas de saúde. Refletimos sobre uma Pesquisa-Ação em andamento, que tem como campo empírico um território afetado por desigualdades e violências estruturais de longa data, na cidade de São Leopoldo/RS. Objetiva-se analisar como as dinâmicas de gênero permeiam a organização das vidas no território e como incidem na distribuição dos cuidados com a saúde e a manutenção das vidas. Mergulhamos em experiências localizadas da Atenção Primária à Saúde, que exerce o cuidado mais disseminado através da equipe de Saúde da Família. Questiona-se como a dimensão comunitária do cuidado se viu impactada pela pandemia, quais formas comunitárias novas e/ou reformuladas de cuidado estão surgindo, pensando se os impactos da crise sanitária podem ser diferenciados por gênero. Está sendo elaborado um Diagnóstico Participativo de Equidade de Gênero (DPEG), utilizando metodologias que potencializem a participação da comunidade no próprio processo de pesquisa, assim como a reflexão crítica e propositiva sobre suas realidades. Como resultados preliminares, observamos alguns aspectos das dinâmicas de gênero no território, principalmente no que diz respeito à distribuição de cuidados e ao acesso à UBS, podendo notar que a pandemia acirrou desigualdades existentes. Em linhas gerais, jovens (meninas e meninos), homens, idosas/os negras/os, foram os grupos que demonstraram menor acesso ao serviço. Os cuidados, sejam com a saúde de si e principalmente dos outros, sejam com as crianças, foram mais presentes entre as mulheres. Foi notório o engajamento da equipe de Saúde da Família para discutir as temáticas abarcadas no projeto, vislumbrando-se possíveis efeitos de equidade de gênero na produção de cuidado localizada.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AGUILAR, Lorena et al. Quien busca... encuentra: elaborando diagnósticos participativos con enfoque de género. 1a. ed. San José, Costa Rica: ABSOLUTO, 1999.
ALMEIDA, Sílvio. O que é racismo estrutural? 1ª ed. Belo Horizonte: Letramento, 2018.
ARIZA-SOSA, Gladys Rocío et al. Hombres cuidadores de vida: formación en masculinidades género-sensibles para la prevención de las violencias hacia las mujeres en Medellín. Rev. Colomb. Psiquiat., Bogotá, Colombia, v. 44, n. 2, p. 106–114, 2015.
BATTHYÁNY, Karina; GENTA, Natalia; PERROTTA, Valentina. El aporte de las familias y las mujeres al cuidado no remunerado de la salud en el Uruguay. 1ª ed. Santiago de Chile: Naciones Unidas, 2015.
BENEVIDES, Bruna G.; NOGUEIRA, Sayonara N. B. (Orgs.). Dossiê Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras em 2020. São Paulo: Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2021.
CONNELL, Raewyn. Género, salud y teoría: conceptualizando el tema en perspectiva mundial y local. Nómadas, Bogotá, Colombia, n. 39, p. 63-77, 2013.
CONNELL, Raewyn. Gênero em termos reais. 1ª ed. São Paulo: nVersos, 2016.
COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Silma. Interseccionalidade. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2021.
CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 171-188, jan. 2002.
DINIZ, Débora. Zika. Do sertão nordestino à ameaça global. 1ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
ESQUIVEL, Valeria. La economía del cuidado en América Latina: poniendo a los cuidados en el centro de la agenda. Centro Regional de América Latina y el Caribe del PNUD, El Salvador, 2011.
FERREIRA, Clara Fontes et al. Pandemias em um mundo globalizado: desafios para o acesso universal à saúde. In: CANDIDO, Débora Antônia et al (Orgs.). Justiça enquanto responsabilidade: potencial transformador dos agentes no mundo contemporâneo. Brasília: Editora UnB, 2014.
FINATO, Romeu; MARQUES, Aline. São Leopoldo alerta para superlotação na Upa Zona Norte e Hospital Centenário. Site da Prefeitura Municipal de São Leopoldo, 2021. Disponível em: . Acesso em: 28/02/2021.
FONSECA, Cláudia. Mãe é uma só? Reflexões em torno de alguns casos brasileiros. Psicologia USP. São Paulo, v. 13, n. 2, p. 49-68, 2002.
KOGA, Dirce. Medidas de Cidades: Entre Territórios de Vida e Territórios Vividos. São Paulo: Cortez, 2003.
MAIA, Marilene et al. O Mapa Falado como instrumento para compor o diagnóstico socioterritorial do município de Canoas/RS: sinalizando proteções e desproteções sociais. In: XV Encontro de pesquisadoras(es) em Serviço Social (ENPESS), Ribeirão Preto/SP, 2016.
MARQUES, Juliana Freitas; QUEIROZ, Maria Veraci O. Cuidado ao adolescente na atenção básica: necessidades dos usuários e sua relação com o serviço. Rev Gaúcha Enferm. v. 33, n. 3, p. 65-72, 2012.
MEDRADO, Benedito et al. Homens e masculinidades e o novo coronavírus: compartilhando questões de gênero na primeira fase da pandemia. Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, n. 1, p. 179-183, 2021.
MOHANTY, Chandra. Bajo los ojos de Occidente. Academia feminista y discursos coloniales. In: NAVAZ, Liliana, HERNÁNDEZ, Aída. (ed.). Descolonizando el Feminismo: Teorías y Prácticas desde los Márgenes. Madrid: ed. Cátedra, Madrid, 2008, p. 117-163.
MONTIEL, Carolina P.; LÓPEZ, Laura C. Trajetórias reprodutivas femininas e produção do cuidado em saúde orientado às gestantes na cidade de São Leopoldo/RS: um olhar interseccional. Revista Gênero, v. 20, n. 2, p. 300-322, 2020.
NIEVES-RICO, María; ROBLES, Claudia. Políticas del cuidado en América Latina: forjando la igualdad. Santiago de Chile: Naciones Unidas, 2016.
NOGUEIRA, Francisco J. S.; LEITÃO, Elaine S. F.; SILVA, Emylio C. S. Interseccionalidades na Experiência de Pessoas Trans nos Serviços de Saúde. Revista Psicologia e Saúde, v. 13, n. 3, p. 35-49, jul-set/2021.
PIMENTA, Denise. O cuidado perigoso: tramas de afeto e risco na Serra Leoa – a epidemia de ebola contada pelas mulheres, vivas e mortas. Tese (de Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Departamento de Antropologia Social, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
POLIDORO, Mauricio; CANAVESE, Daniel. (Orgs.) Situação da violência contra as populações negra, LGBT, indígena e em situação de rua no Sistema Único de Saúde do Rio Grande do Sul, Brasil panorama situacional do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) de 2014 a 2017. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 2018.
ROCON, Pablo C. et al. Dificuldades vividas por pessoas trans no acesso ao Sistema Único de Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 8, p. 2.517-2.526, 2016.
RODRIGUES, Thaís Ferreira. Desigualdade de gênero e saúde: avaliação de políticas de atenção à saúde da mulher. Revista Cantareira, n. 22, p. 203-316, jan-jul/2015.
SCHNEIDER, Cristina Seibert; SELAU, Gabriela Passos. “Não Cabia Todo Mundo...”: A educação patrimonial na ressignificação do valor simbólico da Casa da Feitoria. Historiæ, Rio Grande, v. 12, n. 1, p. 151-170, 2021.
SEPARAVICH, Marco A. A. Saúde masculina: representação e experiência de homens trabalhadores com o corpo, saúde e doença. Tese (de Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2014.
SILVA, Ligia Maria V.; ALMEIDA-FILHO, Naomar. Equidade em saúde: uma análise crítica de conceitos. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, n. 25, Supl. 2, S217-S226, 2009.
SOLANO, Xochitl.; ICAZA, Rosalba (Coords.). En tiempos de muerte: Cuerpos, Rebeldías, Resistencias. Buenos Aires: CLACSO, 2019.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. Porto Alegre: Artmed, 2005.
VEGA, Cristina; MARTINEZ-BUJÁN, Raquel; PAREDES, Miriam (Eds.). Cuidado, comunidad y común. Experiencias cooperativas en el sostenimiento de la vida. Madrid: Traficantes de Sueños, 2018.
VIVEROS-VIGOYA, Mara. A cor das masculinidades. Experiências interseccionais e práticas de poder na Nossa América. Rio de Janeiro: Papeis Selvagens, 2018.
WAISELFISZ, Julio. Mapa da Violência 2012. A cor dos homicídios no Brasil. Brasília: SEPPIR, CEBELA, Flacso, 2012.
WAISELFISZ, Julio. Mapa da Violência 2013. Homicídios e juventude no Brasil. Brasília: SPJ, SEPPIR, CEBELA, Flacso, 2013.
WAISELFISZ, Julio. Mapa da Violência 2015. Homicídio de mulheres no Brasil. Brasília: OPAS/OMS, ONU Mulheres, SPM, Flacso, 2015.
Publicado
2022-09-15
Seção
Artigos