GÊNERO E INTERSECCIONALIDADES PARA PENSAR O CUIDADO COMUNITÁRIO
PESQUISA-AÇÃO EM TERRITÓRIO PERIFÉRICO NA CIDADE DE SÃO LEOPOLDO/RS
Abstract
No presente artigo analisamos a relação entre gênero e cuidado, na dimensão comunitária e na articulação com políticas públicas de saúde. Refletimos sobre uma Pesquisa-Ação em andamento, que tem como campo empírico um território afetado por desigualdades e violências estruturais de longa data, na cidade de São Leopoldo/RS. Objetiva-se analisar como as dinâmicas de gênero permeiam a organização das vidas no território e como incidem na distribuição dos cuidados com a saúde e a manutenção das vidas. Mergulhamos em experiências localizadas da Atenção Primária à Saúde, que exerce o cuidado mais disseminado através da equipe de Saúde da Família. Questiona-se como a dimensão comunitária do cuidado se viu impactada pela pandemia, quais formas comunitárias novas e/ou reformuladas de cuidado estão surgindo, pensando se os impactos da crise sanitária podem ser diferenciados por gênero. Está sendo elaborado um Diagnóstico Participativo de Equidade de Gênero (DPEG), utilizando metodologias que potencializem a participação da comunidade no próprio processo de pesquisa, assim como a reflexão crítica e propositiva sobre suas realidades. Como resultados preliminares, observamos alguns aspectos das dinâmicas de gênero no território, principalmente no que diz respeito à distribuição de cuidados e ao acesso à UBS, podendo notar que a pandemia acirrou desigualdades existentes. Em linhas gerais, jovens (meninas e meninos), homens, idosas/os negras/os, foram os grupos que demonstraram menor acesso ao serviço. Os cuidados, sejam com a saúde de si e principalmente dos outros, sejam com as crianças, foram mais presentes entre as mulheres. Foi notório o engajamento da equipe de Saúde da Família para discutir as temáticas abarcadas no projeto, vislumbrando-se possíveis efeitos de equidade de gênero na produção de cuidado localizada.
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