AS CICATRIZES FALAM

VIOLÊNCIAS CONTRA MULHERES EM TEMPOS PANDÊMICOS, UMA ANÁLISE DECOLONIAL E INTERSECCIONAL

  • Eliada Mayara Cardoso da Silva Alves
  • Dulce Mari da Silva Voss
  • Maria Cecilia Lorea Leite
Palavras-chave: Violência contra mulheres, Pandemia, Decolonialidade, Interseccionalidade, justiça social

Resumo

Neste texto, propõe-se uma discussão acerca do crescimento das violências contra as mulheres e dos feminicídios, no contexto da pandemia da Covid-19, a partir de uma perspectiva que entrecruza os conceitos da decolonialidade e da interseccionalidade no estudo realizado. A análise é feita com base em dados quanti-qualitativos extraídos do site do Jornal Correio Braziliense que constituem uma prática discursiva das contingências em que as violências acontecem. Constata-se que, a violência de gênero, associada às desigualdades étnico-raciais, sexistas e de classe social, intensificam os dispositivos de captura dos corpos e existências mais vulnerabilizadas neste contexto pandêmico. O poder de vida e de morte é impresso e disseminado sobre os corpos, não apenas de forma deliberada e pelo uso da violência extrema, mas também pelas inúmeras formas de produzir saberes, relações e percepções em torno da vida de mulheres, práticas coloniais, nas quais distintas categorias se tornam invisíveis em muitas análises, pois essas não priorizam as relações interseccionais de poder. Mulheres negras, pobres, trans e periféricas são as mais atingidas, tanto pela violência psicológica, física, sexual e os feminicídios, como também pela violência institucional, uma vez que, não estão sendo oferecidas políticas públicas que garantam a elas condições de manter seu sustento e de seus familiares, nestes tempos pandêmicos. Assim, as desigualdades sociais associadas às desigualdades nas relações de gênero, historicamente marcadas pela herança cultural colonial, patriarcal e heteronormativa, indicam o agravamento das injustiças.  

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Referências

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Publicado
2022-11-24
Seção
Artigos