PREFÁCIO
Résumé
Falar, pensar e viver as fronteiras sempre foi uma experiência humana importante, de diferentes pontos de vista, mas, especialmente, do ponto de vista sociocultural. Deste último, a forma moderna dominante de trazer a fronteira como questão para âmbito do pensamento confunde-se com desejos de ação política, voltados para a necessidade de os Estados forjarem a identidade própria de um povo; uma identidade coletiva a ser reconhecida através de fronteiras político-administrativas bem estabelecidas e capazes de discriminar a natureza distinta de quem vive de um de outro lado destas mesmas fronteiras. Porém, a dinâmica complexa que caracteriza as relações socioculturais via de regra não se conforma a soluções simples, ainda que impostas por normatividades. Para além dos ordenamentos do poder político, há dimensões de ordem econômica, cultural e afetiva que influenciam na constituição dos espaços sociais através do qual a vida individual e coletiva adquire sentido. Do ponto de vista da cultura, é visto que o ser humano precisa forjar vínculos, mesmo quando esses estão submetidos a uma lógica da separação. Essa condição relacional é bem representada pela vida da fronteira. Lá onde a separação procura se objetivar, surgem diversos “nichos” de vida em comum que
tenciona o princípio da separação. Esses “nichos” ficam mais explícitos quando se percebe a fronteira não simplesmente como uma linha políticoadministrativa que separa dois países, mas como um espaço feito lugar pelas pessoas que o habitam. Neste momento, esses elementos culturais deixam de ser “nichos” e passam a forjar uma “cultura de fronteira”.