ELE NÃO SABIA NADA E ELAS ENSINARAM TUDO
a agência das mulheres mura no processo de humanização
Abstract
Diziam entre os risos: ele não sabia pescar, ele não sabia caçar, ele não sabia comer, ele não sabia fazer nada. Gracejo contínuo, ele chamou atenção para uma tarefa que parecia estar a cargo das mulheres. Mais do que reproduzir, cuidar, alimentar, as mulheres mura parecem civilizar. Da
anedota que narra sobre as gargalhadas incontidas das mulheres sobre a inaptidão do antropólogo, nasceu em contraste com os comentários masculinos uma possibilidade de pensar a agência feminina como uma fronteira entre o nós e os outros desde a vista dos Mura do Igapó-Açu. Os
Mura são grupo indígena de língua mura, hoje falantes do português, habitantes do complexo hídrico dos rios Amazonas, Madeira e Purus, bem como residentes em diversos municípios da região. Para os que vivem no rio Igapó-Açu, a agência feminina está no centro do processo de criação, amadurecimento e civilização dos pequenos que vem ao mundo, assim como dos estranhos que nele chegam para habitá-lo. Nesse artigo, queremos apresentar uma proposta que dê conta de pensar as mulheres no lugar de bastião de manutenção e criatividade do coletivo.