DA CRIAÇÃO AO ABATE
Etnografias dos caminhos da pecuária no Brasil
Resumo
Nos últimos anos, telespectadores de todo Brasil foram surpreendidos por certas inserções comerciais na programação televisiva, pouco usuais, até então. Primeiro, a propaganda de uma indústria frigorífica, que, ao advogar que “carne tem nome” (ou seja, marca, identidade), ocultava a enorme expansão e a feroz concorrência no interior de um negócio que, para a maioria dos consumidores brasileiros, resumia-se a uma cadeia simples, largamente anônima, que levava animais dos pastos e currais (vivos) aos açougues (em pedaços), onde eram adquiridos, sem maiores questionamentos de ordem macroeconômica ou sociopolítica. Segundo, uma enxurrada
de vídeos celebratórios do agronegócio e de seus vários setores ou componentes – que iam do boi às abelhas, da agricultura familiar à irrigação – que acabou por colocar na boca do povo o bordão em cuja parte final ouve-se: “agro é tudo”. Não parecem restar dúvidas, assim, de que a investida do setor agropecuário nas grandes mídias aponta para a centralidade do negócio para o país: não somente para a economia, mas, sobretudo, para a identidade – ou, melhor dizendo, para o projeto de economia e de identidade que certas elites nacionais desenham para o Brasil.