ONDE MORAM OS PRECARIZADOS
A INTERLOCUÇÃO ENTRE PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E ESTIGMA TERRITORIAL
Resumen
Este artigo trata de estudo empreendido entre os anos de 2015 e 2017 numa localidade demarcada como o “lugar perigoso” de uma pequena comunidade aqui mencionada pelo nome fictício de “Santa Clara”, zona sul da cidade de Manaus. Propõe-se discutir sobre a interlocução existente entre as atuais figurações de trabalhador precário impostas às camadas populares e a reprodução de estigmas territoriais que recaem sobre áreas habitadas por esses segmentos. No contexto da localidade estudada, observou-se a centralidade da categoria trabalho na reprodução de tal estigma, na medida em que as diferentes relações que os moradores desenvolvem com essa categoria, possibilitam estratégias de fuga da desclassificação social. Isso porque, por serem moradores de um lugar considerado destinado a toda espécie de “gente que não presta”, a adequação ao mercado formal de trabalho converte-se numa espécie de atributo de “capacidade” e “honradez”, compreensão que lhes permite o estabelecimento de critérios de distinção e de escalas hierárquicas de (des) classificação grupal que culminam na valorização de alguns subgrupos, em detrimento de uma grande maioria marginalizada, considerada inapta ao mercado de trabalho formal. A figuração “trabalhador” aparece, então, no contexto do discurso neoliberal vigente reproduzido no lugar, como elemento de distinção e não de unidade, dinâmica que reforça a marginalização da grande maioria sem acesso ao mercado formal de trabalho, que apareceu em campo na figura do desocupado. Por implicação, a mesma dinâmica permite que o estigma territorial de “lugar perigoso” que afeta a localidade, seja reforçado por dentro, pela atuação dos próprios moradores.