APRESENTAÇÃO
Abstract
A ideia de empresa tornou-se, ao longo do século XX, um modelo de referência (SOLÉ, 2008) não apenas no setor privado, mas também no setor público. Considerada símbolo de eficiência econômica, a gestão empresarial se converte em sistema normativo que se intensifica com a expansão do neoliberalismo nas últimas décadas do século XX e no início do século XXI (FOUCAULT, 2008). O avanço e predomínio da empresa se manifesta não apenas a partir da incorporação das características, da linguagem, das técnicas e dos métodos empresariais por indivíduos e/ou organizações não necessariamente econômicas, mas também como um poder transversal que contribui para redefinir as mais diversas formas de sociabilidade no mundo contemporâneo. Este processo que não apenas constitui, mas amplia o processo de generalização da ideia de empresa, tem afetado tanto os welfare states consolidados nos países centrais do capitalismo quanto os incipientes sistemas de proteção social nos países periféricos. De fato, não são poucas as manifestações de alinhamento dos governos com premissas empresariais, desde o discurso pró privatização, passando pela disseminação de práticas gerenciais próprias de empresas, ao estímulo a parcerias público-privadas e ao empreendedorismo. Subjacente a esse processo, direitos sociais e de cidadania constitucionalmente garantidos passam a ser vistos como produtos e serviços regidos pela lógica da empresa.
A análise e discussão sobre o impacto da lógica empresarial na formulação, gestão e entrega de políticas sociais coloca-se, portanto, como agenda de pesquisa relevante para a Sociologia.