Feminismo contra a criminalização do aborto: El Salvador e a pandemia de covid-19

Resumo

O artigo analisa as mobilizações de ativistas e coletivos feministas em El Salvador durante a pandemia de Covid-19 – notadamente no que se refere a direitos sexuais e reprodutivos –, entre 2020 e 2022. O trabalho fez uso de metodologia qualitativa com entrevistas semiestruturadas, estudo de caso e resgate de dados levantados nas edições do Comunica América Latina, publicação do Observatório de Movimentos Sociais da América Latina (OMSAL), entre julho de 2020 e fevereiro de 2022. O estudo de caso se dá a partir de dois episódios que chamaram a atenção para a situação dos direitos reprodutivos das mulheres em El Salvador, país em que a proibição total do aborto é rigorosamente aplicada: os casos Manuela e Beatriz. Duas jovens salvadorenhas expostas a violência obstétrica e à legislação antiaborto do país no início dos anos 2000. Os resultados apontam para um esforço dos movimentos feministas salvadorenhos em resistir, no contexto de distanciamento social, consequência de medidas sanitárias para combater o coronavírus, às táticas políticas autoritárias do presidente Nayib Bukele. Ademais, as histórias de Manuela e Beatriz mobilizaram importantes ações coletivas durante o período pandêmico e impactaram a disputa pelo imaginário social a respeito do aborto no país.