COSMOPOLÍTICA SOLIDÁRIA
O COTIDIANO DO TERREIRO ILÊ DE OXUM PANDA MIRÉ FRATERNIDADE OGUM BEIRA MAR
Resumen
A escrita busca tornar visível o invisível, modos próprios de existir, lutar pela vida e manter as origens ancestrais africanas nas culturas afro-brasileiras. O estudo decorre de uma pesquisa descritiva, cujos dados foram extraídos das postagens feitas numa rede social pelo Ilê de Oxum Panda Miré Fraternidade Ogum Beira Mar, terreiro localizado na cidade de Bagé (RS, Brasil). E, a partir da análise dos dados coletados, move-se o pensamento em torno do cotidiano desta comunidade, seus saberes e fazeres, compreendendo-os como elementos que indicam a criação de modos próprios de existir em desvios às necropolíticas de morte geradas pela pandemia do COVID-19 que afeta de modo ainda mais perverso as comunidades periféricas, ao agravar as desigualdades sociais, diante do crescimento do desemprego, da fome e da pobreza. Ao protagonizar ações solidárias, a comunidade do terreiro demonstra lealdade aos princípios éticos e políticos de uma filosofia de vida afro, concebida nos processos comunitários. Marcas simbólicas e culturais engendradas no cotidiano que evidenciam uma cosmopolítica solidária. Com isso, ao praticar a religiosidade e a solidariedade, não só em suas ritualísticas, mas também na ajuda mútua que oferece as demais pessoas das periferias, nestes cruéis tempos pandêmicos, reafirma laços e afetos comunitários, sinais de afirmação e autoafirmação da vida. Artes de resistir e existir em que se criam elos entre o passado e o presente ao resgatar saberes e modos de vida relegados ao senso comum, menosprezados na interpretação acadêmica, mas intensos nos movimentos cotidianos que contém em si o germe de uma vida coletiva mais plural e mais bela.
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Citas
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