AH! A CRETINA, A VIZINHA MISERÁVEL...!
Resumo
Em uma cura psíquica, o trabalho do terapeuta consiste essencialmente em envolver, de modo gradual e imperceptível, o infortúnio do qual o paciente queixa-se em uma formação mental que não seja nem necessariamente imaginária, nem totalmente realista: é suficiente apenas
que seja plausível. O terapeuta, assim, abre um espaço de diálogo, um espaço entre o fictício e o real, onde o excesso de realidade e a rigidez do mal-estar podem começar a se dissolver. As modalidades particulares do distúrbio, as características do terapeuta, a natureza da formação mental, o seu modo de expressão e as manobras que ela permite aos participantes da
terapia são, em conjunto, culturalmente codificados. Dessa forma, cabe precisamente à Antropologia sua descrição e comparação. É a um exercício desse tipo que nós convidamos o leitor, a partir da análise do caso de Madame Flora, uma desenfeitiçadora da região de Bocage, no oeste da França, especialista em resolver as crises de feitiçaria – a partir de uma técnica de cartomancia por ela inventada.