“PEIXE É IGUAL GENTE”
ETNOECOLOGIA DA PESCA ENTRE OS VAZANTEIROSPESCADORES DO MÉDIO RIO TOCANTINS
Resumo
Neste estudo, descrevemos e analisamos os conhecimentos etnoictiológicos acumulados pelos vazanteiros-pescadores do Médio Rio Tocantins e algumas das cosmologias associadas à prática da pesca. A pesquisa envolveu trabalho de campo com entrevistas semi-estruturadas e não estruturadas numa abordagem qualitativa sob o suporte da “observação participante” e da “análise situacional”. O estudo revela que o rio e os peixes têm uma dinâmica interdependente e tanto as espécies como a própria práxis estão atreladas à dinâmica da lua. Com isso, além de dias e horários específcos para a pesca, apetrechos e técnicas próprias de pesca têm sido desenvolvidos e aperfeiçoados ao longo de mais de dois séculos de convívio nessa região. A reprodução dos conhecimentos associados à pesca, incluindo a fabricação artesanal dos apetrechos e técnicas usadas se dá por um processo remoto de aprendizagem doméstica sustentado na prática. Isto tem permitido sua continuidade bem como a perpetuidade de todo um corpus que inclui as particularidades de cada peixe e os tabus, ao longo das gerações por mais de dois séculos. Segredos e cosmologias sobre a biota aquática têm sido desenvolvidos, moldados e transmitidos culturalmente, o que tem contribuído para a continuidade dos vazanteiros-pescadores
mesmo após o barramento do rio.