DO NEUROMORFISMO À PERCEPÇÃO CULTURAL
UMA TEORIA CULTURAL DA MÁQUINA
Resumo
A inteligência artificial e a computação digital são, hoje, temas de grande importância tanto do ponto de vista do “progresso tecnológico”, quanto dos estudos sociais sobre ciência e tecnologia. Sua dimensão experimental/operacional é normalmente pensada como pertencendo às ciências cognitivas e à engenharia da computação, ao passo que as ciências humanas abordam-nas a partir de críticas sociológicas da dominação, nas quais predominam chaves analíticas do poder e do controle social. Ao colocar o problema da simulação da mente diante do conceito antropológico de cultura, este artigo tem como objetivo constituir o campo de uma antropologia das inteligências artificiais, propondo um caminho alternativo para os estudos sobre a infraestrutura dessas tecnologias, de modo a fazer transbordar os paradigmas hegemônicos tanto das ciências naturais/exatas, a saber, o cognitivismo e o organicismo fisicalista, quanto a genealogia do poder das ciências sociais. Para tanto, usando o estruturalismo como fio condutor, retomo as raízes do problema filosófico do espírito, buscando a continuidade entre a antropologia, a filosofia, as ciências da linguagem e as ciências computacionais. Conclui-se que as concepções de inteligência que vêm respaldando os projetos de inteligência artificial estão acopladas a uma despolitização do espírito.