DO “FEMINISMO POPULAR” AO “FEMINISMO PERIFÉRICO”
MUDANÇAS ESTRUTURAIS EM CONTRAPÚBLICOS DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO
Resumo
O tema deste artigo é o subcampo feminista da Zona Leste da cidade de São Paulo. Por meio de entrevistas, observação participante e análise de redes sociais digitais foram identificados dois momentos históricos: [i] o “feminismo popular” (associações que atendiam mulheres em situação de violência) surgido nos anos 1980 e 90; e [ii] a emergência simultânea, na década de 2010, da Rede Leste de Enfrentamento à Violência (convênios da assistência social municipal) e do “feminismo periférico” (coletivos com práticas artístico-culturais). Entre estes momentos foram detectadas descontinuidades quando consideradas as suas matrizes discursivas às quais foram nomeadas de mudanças estruturais nos contrapúblicos deste território: (1) fluxos verticais em direção ao Estado tiveram um efeito paradoxal ao abrir espaço para práticas menos institucionalizadas; (2) contrapúblicos digitais e a autocomunicação de massa substituíram uma rede articuladora de ONGs feministas com sedes fora da Zona Leste; (3) o Partido dos Trabalhadores deixou de ser central frente a coletivos apartidários; (4) a pluralização religiosa e a intervenção conservadora do Vaticano anularam as CEBs como contrapúblicos enraizados no cotidiano das periferias urbanas; e (5) sendo as matrizes discursivas do “feminismo periférico” contrapúblicos negros, isto explica a centralidade para este novo ativismo da questão racial e de um código oposicional antirracista.