Notas sobre a sociocosmologia da Amazônia
dos encantados aos Waimahsã
Resumo
Os seres presentes nas narrativas míticas e lendárias que ocupam espaços próximos ao mundo da natureza são habitualmente vistos sob a ótica da exotização que lhes confere existência somente no campo do imaginário e das representações simbólicas de pertenças ligadas às comunidades tradicionais. No Brasil, os domínios teóricos de abordagem desses sujeitos circunscrevem-se às áreas dos estudos folclóricos, do fabulário e da exploração do fenômeno religioso, sobretudo voltado para as manifestações indígenas da pajelança e das religiões de matrizes africanas. Nas últimas décadas, à medida que se avoluma a literatura indígena, dentro e fora da academia, produzida por esses atores sociais, percebe-se mudança de tratamento epistemológico em relação aos relatos, nos quais esses seres protagonizam lugares de agenciamento fundamentais na dinâmica comunitária, que evidenciam novas
formas de sociabilidade pouco exploradas no cânone ocidental. A partir de estudo exploratório, baseado na teoria do perspectivismo ameríndio, pretendeu-se com este artigo colocar em discussão a recepção desses trabalhos entre as Ciências Humanas, buscando demonstrar que a ampliação da noção de homem (gente) impacta em nova mirada à questão
das relações sociais, cujas implicações permitem afirmar que os coletivos indígenas do noroeste amazônico organizam-se sob a égide de uma Sociocosmologia.