Decolonialidade e bem viver
uma reflexão a partir do contexto ribeirinho da Ilha do Combu
Resumo
Diversos aspectos da nossa realidade refletem a colonialidade que ainda persiste em nossa sociedade e reforça padrões eurocêntricos e estadunidenses, incluindo a noção de
desenvolvimento. Esse discurso desenvolvimentista ganhou força e muitos lugares o aderiram na sua agenda como meta a ser alcançada, pois os países considerados subdesenvolvidos ou em desenvolvimento também desejavam usufruir dos privilégios prometidos, mesmo que a maioria do seu povo pereça. Diante das atrocidades e da falência do dito desenvolvimento, a Ilha do Combu nos convida a refletir sobre essa lógica que nos foi imposta. Assim, neste texto busca-se apresentar o contexto da população ribeirinha que ali se consolidou de maneira diferenciada daquela da Belém continental e urbana. Trata-se de um ensaio antropológico de caráter qualitativo e etnográfico, que fez uso de pesquisa bibliográfica e de trabalho de campo. Este último foi realizado no período de 2010 a 2016, compreendendo a observação direta e participante, entrevistas semiestruturadas e também conversas informais, que se mostraram uma rica fonte para compreender a cosmovisão e a realidade local. Os achados mostram que quando começou a se consolidar a ocupação da Ilha do Combu, o principal motivo era a busca por uma vida melhor, mais próxima do ritmo da natureza em contraposição ao ritmo “moderno”. Tendo em vista que o modo de vida construído na Ilha do Combu está na “contramão” do desenvolvimento do continente, pois reflete uma postura contrahegemônica por parte das comunidades, ele revela uma concepção de Bem Viver local, ainda que ali não seja empregado o termo em si.