CHAMADA PARA A VIGÉSIMA SEXTA EDIÇÃO DA REVISTA PIXO

2023-03-21

A PIXO – Revista de Arquitetura, Cidade e Contemporaneidade, torna pública a chamada para a sua 26ª edição com a temática “COLLAGE: do movimento à criação”.  

Collage, Arquiteturacollage, sobretudo collage em todos os âmbitos e áreas inimagináveis da vida a serem revelados. Esse número temático da PIXO, pretende apresentar trabalhos em que o tema central seja a collage desde o processo até a criação para o campo da arquitetura, do urbanismo, das artes do design, da educação, da filosofia, da antropologia, da psicologia, da literatura, da música, da museologia, do cine, da fotografia, ou de outras áreas de conhecimento em que a collage se introduziu enquanto procedimento e pensamento desde o início do século XX.  

A collage, enquanto trajetória amorosa, é tida como uma reunião de fragmentos. Seu processo pode ser compreendido a partir de três etapas: o recorte, o encontro e a cola. A primeira delas, resulta na captura, seleção, organização, classificação ou ainda construção de fragmentos. Liberta-se figuras de um todo, inaugurando o processo de criação, a construção do abismo e da descontinuidade que obriga os seres a comunicarem-se de maneiras distintas. Os fragmentos, nesse sentido, são objetos próprios, autônomos, que aguçam a imaginação ao entoar possibilidades de reconstrução da integridade e da completude. O todo não é a soma das partes, mas os fragmentos propõem o todo.  A segunda etapa, e talvez mais importante, expressa as aproximações, deleites e possibilidades de articulação que esses fragmentos podem criar ao serem colocados lado a lado. Possibilita o encontro entre visões, culturas, fissuras, espaços e tempos completamente diferentes.  É o instante em que o movimento da produção se acelera e as figuras podem dançar umas sobre as outras sem compromisso, livres. É a possibilidade do acaso, da espera e da errância. Por fim, temos a cola, que fixa uma figura a outra, como uma ponte que conecta dois ou mais territórios. A cola consagra a união, conclui, vincula. É o lugar decisivo, do arrebato, de ir em frente ou retornar. É a consolidação do encontro. 

Enquanto processo, a collage tem seu produto originário na fusão associativa de formas e ideias. Na arquitetura, vários se utilizaram da collage como procedimento e não só representação no século XX: Le Corbusier, Gaudi, Jujol, Mies, Lina Bo Bardi, Aldo Rossi, Colin Rowe, Libeskind, Archigram, Tschumi, entre outros tantos. A Collage city de Colin Rowe e Fred Koetter, contribuição e reação ao urbanismo no final dos anos 1970, se argumenta no encontro entre os fragmentos arquitetônicos e urbanos do passado e as utopias futuras. Assim também é o livro de Charles Jencks ‘ad hocism’. Mas, ao propormos esse número temático, queremos extrapolar a arquitetura consagrada, reunindo também a collage produzida em locus não acadêmicos como as ocupações, acampamentos, barracos, casas informais, favelas, carrinhos de catadores, e outros.

Na arte, a collage aparece como reação à massificação da fotografia com as ‘fotografias compostas’, e posteriormente com os ‘papiers collés’ dos cubistas e com as montagens dadaístas. Mas foi definitivamente com o surrealismo que se iniciou uma reflexão sobre a collage enquanto linguagem, onde o deslocamento de figuras, imagens, ideias de um contexto a outro para dar nova significação passou a ser processual. Nessa mesma trilha, na década de sessenta, a collage minou movimentos como a Internacional Situacionista, Provos, o movimento concretista e neoconcretistas. Ela também é utilizada como princípio na arte de rua contemporânea, com lambes, grafites e collages propriamente ditas, nas paredes, empenas, muros e tapumes que conformam as ruas. 

A collage, montage, assemblage, détournement, foi uma das constantes do século XX, caracterizando a modernidade, e chegando até o século XXI incorporada nos sistemas computacionais (cut and paste/ copiar e colar), e de certa forma na vida de um modo geral.  Recortamos, reunimos e colamos cotidianamente informações, palavras e imagens, emojis, músicas, reels, postagens, vídeos.... Reunimos inteiros para produzir mais e mais informação, para reconstruir um mundo fragmentado, para fragmentar ainda mais o mundo. Quais os limites da collage?

No sentido de expandir e mostrar a presença da collage, também queremos buscar  pensadores da filosofia que se utilizaram do princípio da montagem, como W. Benjamim (montagem), Derrida (Glas), Deleuze e Guattari (agenciamentos), e outros tantos. Talvez, o pensamento collage, tal como conceituou Lévi-Strauss na sugestão do   bricoleur, Dorfles com o Jongleur, ou Benjamin com O Colecionador, remeta ao pensamento selvagem, mágico e ao processo xamânico como curação, apontado pelo o antropólogo M. Taussig. É de suma importância desviar-se da origem da collage como algo eurocêntrico, e buscar esse pensamento na América, nas culturas ancestrais para a descolonização do pensamento. 

Desde as collages de John Heartfield, o grande mecânico das imagens a serviço da revolução para a revista antinazista AIZ (1925), até as montagens/collages dos cartazes russos do Agit-prop, El Lissitzky, Rodchenko, Gustav Klutsis, a collage foi uma arma política. Nada mais oportuno nesse momento, quando o espectro do nazismo retorna, agora disseminado pelo mundo inteiro com Trump, Boris Johnson, Bolsonaro, Piñera, Zelensky, reavaliarmos as possibilidades da collage como tática de guerra.  Ela também é uma questão política a partir das ‘Multitudes’ de Antonio Negri e Michael Hardt.

A collage é uma conversa que grita contra a ordem das coisas, de seus conceitos e significados dados, e opera no processo de produção de novos objetos, formas e imagens provenientes da associação de objetos e figuras já existentes. Como método de representação adotado pelos cartógrafos e caminhógrafos, possibilita a composição de mapas abertos de desmontáveis. Desde a ótica da collage como montagem, nos interessamos pela área do cine que explore a relação com a cidade. Na educação e pedagogia, investigações onde a collage entre como recurso instrumental, processo de aprendizagem e forma de desenvolver o pensamento analógico. A partir da área da saúde e psicologia processos onde a collage colabore com a cura e descoberta de si. E assim por diante.

Finalmente, tendo a ideia de collage como princípio catalisador, pretendemos reunir artigos, ensaios, resenhas, entrevistas e paredes brancas que a extrapolem para criar novas simultaneidades a partir do agenciamento de fragmentos.  Convidamos collagistas, pesquisadores, professores, estudantes, poetas, escritores, artistas, cineastas, psicólogos, educadores e tantos outros, a expressarem o seu processo e seus desdobramentos possibilitadas pela collage como instauradora do movimento e da criação de um novo mundo, hoje em frangalhos.

A submissão de trabalhos, necessariamente inéditos, deverá ser feita pelo sistema https://revistas.ufpel.edu.br/index.php/pixo/index, cadastrando-se como autor, entre os dias 21 de março de 2023 e 28 de maio de 2023. A edição temática “COLLAGE: do movimento à criação” é dirigida por Dr. Fernando Freitas Fuão e Ma. Taís Beltrame dos Santos.