IMAGINÁRIO E CULTURAS DA INFÂNCIA
Resumo
O imaginário infantil constitui uma das mais estudadas características das formas específicas de relação das crianças com o mundo. A investigação tem sido dominada pelas correntes teóricas da Psicologia. Apesar das diferenças essenciais entre as diversas orientações, as perspectivas psicológicas do imaginário infantil possuem um elemento comum, inerente à própria concepção moderna da infância: o imaginário infantil é concebido como a expressão de um déficit – as crianças imaginam o mundo porque carecem de um pensamento objectivo ou porque estão imperfeitamente formados os seus laços racionais com a realidade. Porém, numa perspectiva sociológica e antropológica é da ordem da diferença e não do deficit que falamos, quando falamos do imaginário infantil. O imaginário infantil é inerente ao processo de formação e desenvolvimento da personalidade e racionalidade de cada criança concreta, mas isso acontece no contexto social e cultural que fornece as condições e as possibilidades desse processo. As condições sociais e culturais são heterogéneas, mas incidem perante uma condição infantil comum: a de uma geração desprovida de condições autónomas de sobrevivência e de crescimento e que está sob o controlo da geração adulta. A condição comum da infância tem a sua dimensão simbólica nas culturas da infância. Neste texto, analisam-se as características diferenciadoras das culturas infantis, no quadro das condições sociais e culturais da 2ª modernidade e propõem-se modelos interpretativos da articulação das culturas da infância com a esfera produtiva, as instituições para a infância e a escola.