CONVERSAÇÕES ATREVIVIDAS POR MULHERES PRETAS
PISTAS PARA UMA CLÍNICA POLÍTICA FEMINISTA ANTIRRACISTA
Resumo
O presente ensaio tem como objetivo problematizar a construção de uma Clínica Política Feminista Antirracista a partir da enunciação de conversações escrevividas e atrevividas em oralitura por mulheres pretas amefricanas, docentes universitárias, na cena da COVID-19. Apostamos na trama, na trança, no entrelaçamento de conceitos como conversação, escrevivência, atrevivência e oralitura enquanto gestos-conceitos-metodológicos tanto para a construção teórica do ensaio, quanto para inscrever pistas de uma Clínica Política Feminista Antirracista. As conversações escrevividas e atrevividas em oralitura partem de narrativas de duas mulheres pretas que responderam ao questionário on-line de uma pesquisa maior. Tais narrativas foram ficcionadas, friccionadas e performadas em cenas que operam na tensão entre imaginários racistas e sexistas universalizantes e na criação de novos imaginários sobre a existencialidade de mulheres pretas amefricanas, docentes universitárias. Um futuro indizível está à frente de cada mulher, no entanto, sabem que não estão sozinhas. O que é produzido no coletivo - no quilombo virtual -, reverbera na casa, no trabalho e as pessoas vão reagindo às emergências. Nas experiências da vida cotidiana, com todas as suas dúvidas, preocupações, medos, histórias, amores e afetos, mulheres pretas amefricanas transitam e em conversação transformam em palavras, em poesia, em linguagem, em ideias, em revolução seus devires. Seria esta uma pista para uma Clínica Política Feminista Antirracista?
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Referências
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