O Fim da Onda Rosa e o Neogolpismo na América Latina

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Fabricio Pereira da Silva

Resumo

Este artigo faz um balanço do ciclo dos chamados “governos progressistas” na América Latina, comumente denominado de “onda rosa”. Analisa o esgotamento do referido ciclo, sugere terminologias a partir das quais se pode compreender o fenômeno, e aborda as alternativas conservadoras que vão se impondo. Trata-se em grande medida de uma análise de conjuntura, acrescida de alguns apontamentos mais gerais em torno do conceito de “neogolpismo” e suas variantes. Para que fazer uma análise de conjuntura? Para discutir a realidade em seu momento e buscar intervir nela, o que os cientistas sociais latino-americanos procuraram fazer ao longo de quase toda sua história de intelectuais em países periféricos e profundamente desiguais – no entanto, quase não o fizeram nas últimas décadas. Ainda que sabendo que nossa capacidade de influir na realidade e de prevê-la é reduzida, em grande medida porque os óculos das nossas disciplinas e em particular da Ciência Política nem sempre foram fabricados para nossas realidades específicas, muitas vezes distorcendo-as.

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Como Citar
Pereira da Silva, F. (2021). O Fim da Onda Rosa e o Neogolpismo na América Latina. Revista Sul-Americana De Ciência Política, 4(2), 165-178. Recuperado de https://revistas.ufpel.edu.br/index.php/Sul/article/view/171
Seção
Dossiê

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ambos e com isso impedindo sua volta ao governo em futuro próximo. Para não falar da contaminação da política peruana
pelos escândalos de corrupção da “Lava-Jato”, que levou à renúncia do presidente Pedro Pablo Kuczynski em março de
2018 e vem provocando a criminalização de boa parte do sistema político, incluindo todos os últimos ex-presidentes do
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